PF afirma que Jair e Carlos Bolsonaro integravam núcleo que definia quais autoridades seriam espionadas na ‘Abin paralela’
18/06/2025
(Foto: Reprodução) Apesar de considerar que o ex-presidente tinha papel central no esquema, a PF não indiciou Bolsonaro porque ele já responde pelos crimes de organização criminosa e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito na ação penal que trata da tentativa de golpe. PF afirma que Jair e Carlos Bolsonaro integravam núcleo da ‘Abin paralela’
O relatório final da Polícia Federal afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o filho, Carlos Bolsonaro, fizeram parte do núcleo que decidia que autoridades seriam espionadas pela chamada “Abin paralela”. Segundo a PF, o ex-presidente era o principal destinatário das ações clandestinas.
O relatório final tem mais de mil páginas, e a Polícia Federal indiciou 36 pessoas. Segundo a PF, o grupo montou um esquema paralelo de espionagem para invadir e rastrear - sem autorização judicial - milhares de celulares e computadores de jornalistas, opositores políticos e ministros do Supremo, como Alexandre de Moraes. De acordo com a investigação, o grupo produziu e disseminou informações falsas sobre esses alvos e trabalhou para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro.
A PF afirmou que as diligências policiais confirmaram a existência de uma estrutura paralela de inteligência, operando em desvio das funções institucionais da Agência Brasileira de Inteligência, Abin, integrada por policiais federais cedidos e oficiais de inteligência que aderiram às condutas ilícitas perpetradas pela célula da organização criminosa, cujo mote era a manutenção no poder, inclusive pelo rompimento do Estado Democrático.
A PF disse que a organização criminosa era dividida em núcleos, entre eles o político e o de execução de ações clandestinas. O núcleo político, de acordo com o relatório, era composto por figuras de alto escalão do governo à época, incluindo potencialmente o então presidente Jair Bolsonaro e seu filho, vereador Carlos Bolsonaro, que foi indiciado.
PF afirma que Jair e Carlos Bolsonaro integravam núcleo que definia quais autoridades seriam espionadas na ‘Abin paralela’
Jornal Nacional/ Reprodução
A PF afirmou que "este núcleo foi o responsável por definir as diretrizes estratégicas, determinar os alvos das ações clandestinas e se beneficiar politicamente das operações. E concluiu: era o centro decisório e o principal destinatário das 'vantagens' ilícitas (manutenção no poder e ataque a adversários)".
Apesar de considerar que o ex-presidente tinha papel central no esquema, a PF não o indiciou. Isso porque Bolsonaro já responde pelos crimes de organização criminosa e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito na ação penal que trata da tentativa de golpe de Estado. Como o uso irregular da Abin também faz parte dessa acusação, Bolsonaro não poderia responder duas vezes na Justiça pelos mesmos fatos. O delegado do caso disse:
"Considerando que já existe ação penal em curso, deixo de indiciar o investigado Jair Bolsonaro, consignando a conduta caso haja outro entendimento”.
No relatório, a PF apontou que o deputado Alexandre Ramagem, do PL, fazia parte do núcleo da estrutura paralela da organização, que utilizava a estrutura física, tecnológica e orçamentária da Abin para executar as ações clandestinas determinadas pelo núcleo político.
O atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, foi incluído no núcleo que, segundo a PF, atuou para dificultar as investigações. Ramagem e Corrêa também estão na lista de indiciados.
A PF diz que a Abin paralela fez mais de 60 mil consultas ilegais nos sistemas da agência para identificar a localização de alvos monitorados. Tudo para, segundo os investigadores, proteger e blindar os integrantes do chamado núcleo político. O relatório afirma, ainda, que a espionagem ilegal buscava obter vantagens políticas e informações sigilosas de investigações sensíveis para manter o grupo de Bolsonaro no poder.
A defesa de Alexandre Ramagem declarou que ainda está analisando o material.
As defesas de Jair Bolsonaro e de Carlos Bolsonaro não se manifestaram.
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